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"Descobrir o verdadeiro sentido das coisas é querer saber demais!" Fernando Anitelli



segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A Bruxa e o Poeta.

Certa noite um jovem poeta caminhava pelos bosques tendo a lua como sua protetora. Ele buscava inspiração; necessitava de novas imagens, novos sons, novos sabores, novos cheiros etc. Buscava a inspiração.
Diante da inquietação que sofria, pensava ele que não mais conseguiria fazer a alquimia das palavras, sentia-se vazio, sentia-se só.
Continuou caminhando, e reparou que flores surgiam a sua frente, e quanto mais caminhava mais flores iam surgindo.
Eram margaridas.
Simplesmente margaridas.
Pensou em como as margaridas poderiam ajudá-lo, que eram algum sinal, algum recado da lua. Continuou a sua caminhada, viu um riacho, viu uma pedra, resolveu sentar-se sobre ela e descansar o seu corpo fatigado.
Ficou ali, sentado, observando aquele riacho fazendo o seu pretensioso percurso. Aquele riacho sereno, calmo e persistente, que era muito mais forte do que aparentava ser, e era tão forte que se apegava à certeza de que não desistiria de encontrar Netuno, mesmo com todas as pedras em seu caminho.
O jovem poeta pensou que talvez a fonte de inspiração pudesse ser o riacho, aparentemente sereno, porém forte e idealista.
Pensando em sua busca o jovem poeta resolveu molhar os seus pés naquele riacho, provavelmente pensou que o riacho transmitiria um pouco de suas forças para que continuasse a sua jornada.
Fechou os olhos, acomodou-se um pouco mais. Sentiu algo diferente, sentiu que um novo cheiro chegava até ele, era o cheiro das flores. Mas não era o cheiro das margaridas.
Abriu os olhos e viu uma jovem mulher vindo em sua direção, ela estava com seu corpo e cabelos molhados, envolta em um manto.
Ela sentou-se ao lado do poeta, pegou a mão dele, colocou-a sobre o seu peito de forma que o poeta pudesse sentir as batidas de seu coração. O poeta, assustado, sem entender o que estava acontecendo, ficou quieto por alguns segundos, se vendo refletido nos negros olhos da jovem mulher.
Suspirou e perguntou: “_Quem sois vós?”
Ela respondeu: “_Sou aquela que nasceu para ser contemplada.”
Ele não entendeu, e perguntou: “_Por que dizes isso? _Por que achas que deves ser contemplada?”
Ela respondeu: “_Não sou eu que digo, mas sei que é isso que os teus olhos confirmam.”.
O jovem poeta pensou nas palavras da jovem mulher.
Ela o olhou e disse: “_Quer saber o que faço?”.
Antes que ele respondesse, ela disse: “_ Magia!”
“_Magia? _Que tipo de magia?”, perguntou o poeta.
Ela permaneceu em silêncio, pegou a outra mão do poeta e apertou-a.
Ela fitou os seus olhos e disse: “_Tu és um poeta.”
Ele respondeu: “_Se tu o dizes, posso sê-lo.”
Ela apertou a mão do poeta mais uma vez, e agora com mais força, e disse: “_Não sou eu que digo, são os teus olhos que dizem.”
Ela continuou: “_Eu sei o que buscas, sei que estás desorientado, sei que necessitas de ajuda.”
Com ar irônico, ele perguntou: “_Como sabes? Não vais me dizer que os meus olhos te dizem isso.”
Ela colocou uma mão sobre o peito dele e a outra em sua face, ele sentiu-se acolhido, sentiu-se seguro. Ela aproximou-se mais, chegou perto de seu ouvido e disse, quase que sussurrando: “Teu coração me diz, o teu coração”.
O cheiro das flores ficou mais intenso, era estranho, pois parecia cheiro de orquídeas.
O Jovem poeta disse: “Mas tu ainda não me dissestes qual tipo de magia fazes.”
Ela retirou a mão que estava sobre o peito dele, a colocou do outro lado da sua face e disse: “Saberás. _Logo saberás que tipo magia eu faço.”
Ele fechou os olhos, quando os abriu novamente o sol estava raiando. Olhou ao seu redor, e não encontrou mais a jovem mulher. Viu que tudo não passara de um sonho. Calçou suas botas, e resolveu voltar para casa. Sentia-se diferente, sentia-se forte, sentia-se inspirado.
Ao chegar em casa, lembrou-se mais uma vez da imagem da jovem mulher, lembrou-se dos olhos negros, das mãos sobre os seu rosto, do cheiro forte e intenso das flores.
Pensou muito sobre o sonho, pensou em como ela o fez bem.
Bateram na porta, ele foi atender.
Ao abrir, ele deparou com uma jovem mulher, de olhos negros e sorriso cativante. Ele reparou que ela trazia um cesto com flores.
Ela perguntou: “Flores senhor?”
Ele respondeu: “Sim, o que tens?”
Ela olhou de uma forma diferente, deu um passo à frente e disse: “_Orquídeas e margaridas.”
Ele olhou para o cesto, e apanhou uma flor que estava só entre as outras e disse: “_Eu quero essa, há muito eu a buscava e não sabia.”
Era uma rosa.
Ele perguntou: “_Quanto custa?”
Ela respondeu: “Nada, acho que essa era mesmo para o senhor.”
Ele sorriu, ela também.
O vento soprou um pouco mais forte, ela pegou seu manto e cobriu-se.
Ela disse: “Tenho que ir.”
Ele despediu-se dela com olhos, ela entendeu.
Fechou a porta, sentou-se à mesa, olhou para a rosa e disse para si mesmo:
“_Tanto busquei, tanto esperei... e hoje vejo que a inspiração estava sempre ao meu lado.”
Pegou duma pena, molhou-a na tinta, desenrolou o papiro e começou a escrever.
Não sabia ainda qual era a história que estaria por vir, mas sabia que escreveria sobre flores e magias ou algo como história da Bruxa e do Poeta.


Petrópolis, 03 de junho de 2006.
Leandro Magrani.